Mesmo nas pessoas que descrevem a sua infância como tendo sido “normal” e /ou feliz, no decorrer da terapia acabam por se surpreender com situações passadas na infância que não se recordavam e que na verdade estavam na origem da situação problema que querem resolver.
Por exemplo: Uma cliente chegou ao consultório com a queixa de que não conseguia ter bons resultados nos exames da faculdade pois ficava sempre muito ansiosa durante os exames e não conseguia resolver os exercícios propostos, no entanto fora do contexto de avaliação era capaz de os resolver com bastante sucesso. Antes de iniciarmos o processo terapêutico a cliente associava o facto a um antigo relacionamento que não correu bem e que a estaria a afectar devido ao facto do seu ex-parceiro a diminuir em relação às suas capacidades. Em relação á sua infância dizia que não se lembrava de nada antes dos seus 12/13 anos. Assim iniciou-se a sessão e qual não foi o espanto da cliente quando deu por si a relembrar acontecimentos de quando deveria ter uns 6 anos e a sua mãe a recriminava por ter feito mal os trabalhos de casa e lhe disse que ela nunca ia conseguir ser ninguém na vida e que não iria chegar longe. E foram essas as palavras responsáveis para que inconscientemente a cliente instalasse uma crença negativa de si própria, o que veio a afectar a sua auto-estima e autoconceito durante todo o seu crescimento e desenvolvimento pessoal e afectivo. Depois de resolvidos os bloqueios causados pelo incidente referido a cliente finalmente conseguiu passar na cadeira á qual já tinha reprovado por três vezes e começou finalmente a acreditar que era capaz e forte para conseguir terminar a sua licenciatura.
Este é um bom exemplo de que um trauma não tem de ser necessariamente um acontecimento violento ou uma ameaça à integridade física, pois as ameaças à integridade psicológica são igualmente ou até mais perigosas e causadoras de grandes danos na vida das pessoas. E também nos demonstra o poder do acreditar e a força que as palavras e as crenças
que temos podem ser ao mesmo tempo impulsionadoras ou limitantes.Deste modo uma das grandes vantagens de usar o EMDR na terapia com crianças prendesse com o facto de que as suas memórias e eventos ainda estarem suficientemente presentes e deste modo não se terem ainda consolidado em crenças negativas a seu respeito, sendo por esse motivo também mais rápidas de curar, dando assim a possibilidade de que se tornem adultos equilibrados e sensatos a nível pessoal e interpessoal.
Contudo os eventos referidos não têm de ser necessariamente frases que lhes tenham sido ditas directamente, podem ser conversas que ouviram e que interiorizaram como sendo para si, sentirem-se culpadas pelo divórcio ou pelas discussões entre os pais, não conseguirem ou não se sentirem aceites pelos pares, enfim existe todo um mundo de possibilidades que podem levar uma criança a instalar falsas ideias e juízos de valores em relação a si própria que a longo prazo se podem vir a revelar incapacitantes e causadoras de muito sofrimento (que muitas vezes as pessoas não sabem explicar de onde vem).
Deste modo se todos começarmos a entender as terapias e a psicoterapias como a possibilidade de nos reencontrarmos, descobrirmo-nos e acima de tudo conhecermo-nos deixando de lado a Crença Negativa de que “os Psicólogos são só para os malucos”, todos ficamos a ganhar. A começar sempre por quem tem a Coragem de ir conhecer a pessoa que aparece reflectida no espelho em sua frente.

